quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Desemprego ou falta de vergonha na cara?

Há alguns dias eu comecei a observar uma situação curiosa aqui na Bélgica, algo que eu sabia que existia mas não imaginava ser tão claro.
Desde o di em que pisei os pés aqui e voltei a assistir jornais daqui, eu me deparo com várias matérias sobre o aumento acelerado do desemprego. Em contraste com uma das primeiras matérias que li em um outro jornal sobre a falta de trabalhadores no ramo comercial (vendedores, gerentes de loja e etc), mas o depoimento dos diretores de grandes lojas explicavam que a falta de trabalhadores se devia às exigências que não condizem com o salário (por exemplo, eles precisam de pessoas descoladas, que saibam conversar, que tenham fluência em 4 línguas e que tenha uma boa aparência, isso para ganhar 900 euros). Realmente não. Achei essa ser a razão e continuei preocupada com o crescimento do desemprego, afinal, querendo ou não isso significa um certo retrocesso econômico.
Há quatro semanas a empresa do meu marido teve que contratar uma pessoa para substituir outra que vai trabalhar na Holanda (ela mora em Breda e o marido trabalha perto de casa, ficava inviável ela descer todos os dias para a Antuérpia). Foram duas semanas de puro sofrimento para algumas pessoas na empresa, vááárias entrevistas, várias tentativas frustradas, para no fim escutarem "depois das férias eu decido". Então eles passaram para o plano B: contratar alguém com experiência mínima no ramo. Depois de outras entrevistas estúpidas, eles contrataram uma pessoa sem experiência no ramo específico, mas que já tinha trabalhado na área (pensem assim, hipoteticamente: ele trabalhou como caixa em um açougue e agora virou dono de fazenda).
Marido reclamou horrores por ter que treinar alguém assim, afinal o workload dele já é sacrificante o suficiente, mas ninguém mandou ter mais experiência que algumas pessoas na empresa e ter o dom de saber ensinar *rs. Passou os dias seguintes criticando o pessoal que reclama do desemprego, que vai no jornal contar sua estória de vida "miserável", mas vive bem com suas sociale woningen (projetos habitacionais do governo), com seus € 900 do auxílio desemprego belga e ainda com a ajuda financeira extra da OCMW (orgão de auxílio social) caso tenha filhos. Eu achei que era reclamação besta pq tava bravo com a situação pessoal dele.
Mas hj vejo que não. Hoje vejo que isso é a pura realidade belga.
Há três semanas eles procuram alguém na minha empresa para me substituir. O cargo é de chimpanzé, é bem verdade. Um saco pq é só colocar informações no sistema e coordenar a chegada dos navios junto com os clientes (essa parte de coordenar junto com clientes é até legal, mas a parte de alimentar sistema me mata!!!). Mas apesar de *EU* não gostar do trabalho, tem gente aqui que faz exatamente o que eu faço e que está muito bem. É uma questão de perfil, eu sou muito ativa para fazer o que eu faço. Eu gosto de desafios novos, problemas gigantes, horas extra e por aí vai. Eu sou estranha *rs, não é todo mundo que é assim.
Enfim, se vc se encaixa no perfil, o trabalho é legal, o salário não é uma maravilha mas é mais do que o auxílio desemprego, horas de trabalho são tranquilas e é uma forma de vc entrar em uma empresa multinacional e se colocar no mercado. No mínimo vc ganha experiência para conseguir uma emprego melhor daqui a um ano.
Mas agora pergunta se muitos candidatos vieram?????!!!! Nada!!!!
Ontem conversando com minha chefe que é casada com uma pessoa que tb trabalha em uma empresa grande, ela fez as mesmas reclamações que Mick havia feito (foi até engraçado pq eu comecei a conversar com ela e esqueci que Mick vinha me buscar, então ele, cansado de esperar, veio no escritório e entrou na conversa, começando a reclamar junto com a chefe hehehehehe ... belgas reclamões *rs).
Sinceramente?! Essa situação me dá mais medo do que o desemprego. A União Européia já está toda aberta, neguinho de vários países só precisam vir aqui e trabalhar. Para mim só existem duas opções e as duas são complicadas (a última eu prefiro ignorar a existência e prefiro que os governos de esquerda tb a ignorem):
1 - ou se corta essa porcaria de auxílio desemprego (mas aí não pode-se cortar algo simplesmente pq tem famílias que realmente dependem disso, teria que ser criado um corpo de estudo e análise de cada caso, isso exige mão de obra e dinheiro dos cofres públicos);
2 - nova abertura de fronteiras (acho praticamente impossível) ou estímulo para que estrangeiros, membros da União Européia, venham para cá.
Não sei ... se converso com gerentes, CEOs e diretores todos eles se encontram em uma situação de desespero pq não podem aceitar mão de obra desqualificada e neguinho só sai do auxílio desemprego se for pra ganhar 2.000 euros líquido (isso eu escutei de uma pessoa que vive do auxílio).

Agora toda vez que ver pessoas reclamando do desemprego vou ficar com raiva ... tô até vendo!!!!!